Economia gaúcha teve o pior desempenho do país no primeiro semestre, aponta Banco Central
- 22/08/2022

A  economia gaúcha fechou o semestre com uma retração de 3,4%, segundo o  Índice de Atividade Econômica Regional do Rio Grande do Sul (IBCRRS),  indicador calculado pelo Banco Central e considerado um termômetro do  PIB. Foi o pior desempenho do país, conforme o ranking elaborado pelo  economista-chefe da Câmara de Dirigentes Lojistas de Porto Alegre (CDL  POA), Oscar Frank. Na média nacional, houve um avanço de 2,2%. 
O semestre foi marcado por retomada no varejo (+8,5%) e no setor de serviços (+15,4%). Apesar da inflação, houve injeção de dinheiro na economia, com liberação de FGTS e antecipação da aposentadoria pelo INSS. Há, ainda, bastante consumo represado do período da pandemia, especialmente em atividades de turismo, como hospedagem e alimentação. Em tempo, a base de comparação nestes setores é baixa, considerando que o primeiro semestre do ano passado teve um período de fortes restrições pelo avanço da covid-19. A indústria teve um crescimento bastante tímido, de 0,4%. O setor ainda sente, principalmente, a escassez e a alta dos insumos para a produção. Mas o que levou o indicador a ficar bastante negativo foi a agropecuária, afetada fortemente pela estiagem, que derrubou a safra de verão. Os efeitos foram sentidos ainda nos indicadores gerais da economia gaúcha no primeiro trimestre, lembra o economista Oscar Frank.
  O que levou o Rio Grande do Sul a ter o pior resultado do país?
   Tivemos um problema gravíssimo relacionado à estiagem no campo, que  acabou fazendo com que alguns dos nossos principais produtos básicos  sofressem enormes prejuízos. A safra de verão veio muito ruim, afetando  soja, milho, arroz, tabaco. São produtos muito relevantes para a nossa  economia, que geram divisas ao Estado. Em função disso, nós tivemos o  resultado que se descolou da média nacional.
  Por que os fortes crescimentos de varejo e serviços não compensaram a queda no agro?
   Temos aqui no Estado um peso muito maior do agronegócio do que na  média nacional. O setor primário acaba atingindo a indústria e os  serviços, atingindo 40% da economia gaúcha, contra 25% da média  nacional. Então, quando acontece um problema climático dessa magnitude  acaba gerando esse prejuízo significativo. A boa notícia é que nós  tivemos uma safra de inverno bastante positiva. Isso deve impactar  favoravelmente no PIB no quarto trimestre. Mas, mesmo com essa safra  positiva, não devemos nos recuperar de todos os prejuízos da safra de  verão, infelizmente.
  O que podemos esperar para o varejo e para o setor de serviços no segundo semestre?
   É importante entender por que que tanto o comércio como os serviços  performaram bem: nós tivemos uma melhora sensível do quadro sanitário a  partir de fevereiro, o que possibilitou o preenchimento da demanda que  estava reprimida. Ajudou, principalmente, os serviços e o comércio  considerado não essencial, como o de tecidos, vestuário, calçados. Nós  tivemos também o impacto da alta das commodities sobre o PIB, o que  ajuda as exportações. E tivemos uma medida bem relevante da parte do  governo federal que foi aquele programa Renda e Oportunidade, com  liberação extraordinária do FGTS, a antecipação do 13º salário de  aposentados e pensionistas. Ao longo do segundo semestre, esses vetores  começarão a perder força, mas temos outras situações oriundas de  políticas federais. A partir dessa redução de ICMS nos bens e serviços  essenciais, abrindo espaço no orçamento das famílias para que venham a  gastar tanto com o comércio, quanto com os serviços. E também a PEC dos  Benefícios, injetando recursos sobretudo para as famílias de mais baixa  renda, que têm uma propensão maior a consumir. Pelo menos até o final do  ano, eu entendo que a perspectiva acaba sendo relativamente positiva.  Mas fica a grande interrogação: 2023. Não vejo vetores significativos  para continuar sustentando essas taxas de crescimento no ano que vem.
  Olhando  para fora do Brasil, nossos três principais mercados - China, Estados  Unidos e Argentina - estão com dificuldades. Qual o impacto na economia  gaúcha?
  Embora o comércio não exporte, tem impacto  indireto. Na medida em que existe uma desaceleração econômica global, a  nossa capacidade de geração de renda é prejudicada, um dos principais  fatores que explicam o desempenho do varejo. Estamos monitorando. Temos a  política de "covid zero" na China, a crise imobiliária lá, além de uma  desaceleração econômica nos Estados Unidos. O banco central americano  deve continuar aumentando as suas taxas de juros, o que é um desafio  para a retomada. E a Argentina com gravíssimos desequilíbrios  macroeconômicos, com restrição aos fluxos cambiais, às importações, algo  que acaba nos afetando diretamente.
  Com gargalos globais, o varejo passou a comprar mais produtos nacional para vender. É uma tendência?
   De fato, essa nacionalização acabou acontecendo, uma herança da  pandemia. Se persistir o cenário internacional conturbado, pode fazer  sentido aprofundá-la. Mas se a situação de normalizar, requisitar o que  vem de fora pode ter mais sentido do ponto de vista de eficiência  econômica. Mas em termos de perspectiva, não vejo essa situação se  resolvendo de maneira rápida. Vai levar tempo para os fornecedores, as  cadeias econômicas se reorganizarem. Os custos logísticos chegaram a  bater US$ 11 mil. Antes antes da pandemia, a medida de frete era de US$  1,3 mil, US$ 1,4 mil. Hoje, está na casa de US$ 6,5 mil. É um patamar  muito alto ainda. Isso não vai ser normalizado dentro dos próximos 12  meses.
Fonte: GZH

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