Inflação no Brasil é diferente do restante do mundo; entenda

  • 23/07/2022
Inflação no Brasil é diferente do restante do mundo; entenda

A inflação que afeta o Brasil não é a mesma da Europa ou dos Estados Unidos – por mais que os efeitos na economia sejam muitos parecidos.

De uma forma geral, as pessoas podem até não saber qual é a taxa inflacionária de um país, mas elas sentem o índice de preços quando as contas começam a pesar no bolso.

O movimento inflacionário mais recente é um efeito colateral da pandemia que atinge o mundo todo. As medidas de restrição levaram a uma queda na produção, além de gerarem problemas das cadeias logísticas.

E mais: para manter a economia aquecida, governos e bancos centrais jorraram dinheiro no mercado através de subsídios, facilidades de acesso a crédito, redução de impostos e taxa de juros baixas.

O resultado foram pessoas com dinheiro para gastar, mas com poucos produtos para comprar. Em um cenário como esse, os preços sobem por causa da escassez – essa é a chamada inflação de demanda.

Inflação e lockdown

Quando foi decretado o fim dos lockdowns, a cotação das commodities subiu. Os estímulos econômicos aumentaram a procura por petróleo e minério de ferro de forma rápida e intensificaram ainda mais a inflação já existente. Mas até aí, o movimento da economia estava dentro do esperado.

O problema é que ninguém previu que a Rússia e a Ucrânia entrariam em guerra. Nem que a China voltasse a impor medidas restritivas contra a covid-19.

Esses dois fatores, somados aos efeitos da pandemia, acabaram com os planos dos bancos centrais de recuperação e ainda colocaram muitos países à beira de uma recessão.

Na Europa, por exemplo, a inflação atingiu o seu maior patamar em 40 anos, com uma taxa anual de 8,6%. Por lá, o que mais pesa é o encarecimento da energia.

Vale lembrar que 40% do gás consumido pelos países europeus era proveniente da Rússia – mas a guerra e as sanções impostas ao país diminuíram a quantidade de combustível que chega à região.

Esse gás é usado não apenas para o aquecimento das casas, mas também pela indústria. Se a energia fica mais cara, a produção também fica encarece e reflete nos preços dos produtos (especialmente no setor de alimentação e transportes). É a chamada inflação de oferta.

Oferta e demanda

Nos Estados Unidos, a história é outra. O problema lá é o mercado imobiliário: os preços dos aluguéis subiram durante a pandemia, tanto que os gastos com moradia representam cerca de 40% da composição do índice de preços ao consumidor (CPI, na sigla em inglês).

Em junho, a inflação americana também atingiu o seu maior patamar em quatro décadas, avançando 9,1%.

Além disso, o país vive uma inflação salarial. O mercado de trabalho está apertado: tem vagas, mas não tem trabalhadores. Desde março, a taxa de desemprego se mantém em 3,6% – trata-se do menor patamar desde fevereiro de 2020, quando atingiu 3,8%.

Esse cenário trabalhista gera uma espiral inflacionária. Os trabalhadores têm mais dinheiro para gastar (inflação de demanda), mas as empresas também precisam aumentar os preços dos produtos para arcar com os salários mais altos (inflação de oferta).

Por aqui, nós temos um pouco da inflação de oferta e um pouco da de demanda. Tanto que o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) já está há dez meses nos dois dígitos: em junho, a taxa acumulou alta de 11,89%.

Mas o ponto principal é que a nossa inflação é indexada. O preço de produtos e serviços, como os aluguéis, salário mínimo e mensalidades, variam de acordo com o movimento da inflação. Ou seja, se o preço dos alimentos subirem, o contrato de aluguel também fica mais caro (mesmo que não tenha nada acontecendo no mercado imobiliário).

Além disso, a desvalorização do real em relação ao dólar, ajuda a pressionar os preços de produtos importados.

Fonte: Juliano Américo / Moneytimes


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