Equipes de reportagem da Band, da TV Record e do SBT são agredidas e intimidadas por bolsonaristas no centro de Porto Alegre
- 03/11/2022
Profissionais da imprensa cobriam manifestações que contestavam resultado das urnas em frente ao Comando Militar do Sul nesta quarta-feira (2).
O trabalho de ao menos três equipes de reportagem foi interrompido, nesta quarta-feira (2), por bolsonaristas que protestavam contra o resultado das urnas em frente ao Comando Militar do Sul, no centro de Porto Alegre. Trabalhadores de Band, TV Record e SBT que acompanharam os atos no mesmo local foram hostilizados verbal ou fisicamente. A Brigada Militar prendeu um dos agressores e trabalha para identificar outros envolvidos. Na terça-feira (1º), houve intimidação a um repórter da Rádio Gaúcha na BR-116. Na RS-040, no mesmo dia, houve intimidação a um repórter da RBS TV.
As informações do 11º Batalhão de Polícia Militar relatam que a equipe de força tática interferiu quando viu um manifestante dar socos no cinegrafista e em um motorista da equipe, funcionários do Grupo Bandeirantes, que gravavam imagens com um repórter, além de quebrar os equipamentos de gravação. Todos foram conduzidos para o Hospital de Pronto Socorro (HPS) de Porto Alegre para a realização de exames que comprovem as eventuais lesões. Apesar das agressões, os funcionários da Band passam bem.
Depois do atendimento, a equipe de reportagem iria à 2ª Delegacia de Polícia para registrar boletim de ocorrência. O agressor, conforme a BM, apresentava sinais de embriaguez.
No mesmo protesto, um grupo de quatro manifestantes com camisas amarelas da Seleção Brasileira cercou a equipe do SBT formada por um repórter e pelo cinegrafista que o acompanhava. Neste caso, imagens foram gravadas pelos profissionais de imprensa, mostrando a intimidação verbal dos homens que cobravam uma explicação dos termos utilizados pelo jornalista para noticiar o protesto, que pede intervenção das forças militares no processo eleitoral que elegeu Luiz Inácio Lula da Silva para o seu terceiro mandato presidencial, no último domingo (30), o que é um ato antidemocrático. Trata-se de ato antidemocrático porque não reconhece o resultado da eleição e pede intervenção militar.
No caso da TV Record, uma repórter, um cinegrafista e um auxiliar chegaram ao local e foram impedidos de trabalhar. Dois homens os intimidaram e expulsaram do local.
A Band divulgou uma nota sobre o ocorrido: "A equipe da BandTV foi agredida na tarde desta quarta-feira quando registrava manifestação no centro da Capital. O agressor foi preso pela Brigada Militar. Todo apoio está sendo prestado pelo Grupo BandRS aos profissionais. É inaceitável qualquer tipo de violência assim bem como o cerceamento ao exercício do trabalho jornalístico. O devido boletim de ocorrência foi registrado na 2° Delegacia de Polícia. As medidas legais cabíveis foram acionadas".
O SBT divulgou nota a respeito do caso: "O Jornalismo do SBT repudia e condena os atos de hostilidade. As agressões a jornalistas são atentados contra a liberdade de imprensa e não podem ser toleradas. José Occhiuso – Diretor Nacional de Jornalismo do SBT".
Repercussão
A Associação Gaúcha de Emissoras de Rádio e Televisão (Agert) e o Sindicato das Empresas de Rádio e Televisão do Rio Grande do Sul (SindiRádio) também repudiaram o ocorrido:
"A Associação Gaúcha de Emissoras de Rádio e Televisão (AGERT) em conjunto com o Sindicato das Empresas de Rádio e Televisão do Rio Grande do Sul (SindiRádio) vêm a público manifestar seu repúdio aos atos de hostilidade e agressões sofridos pelos profissionais dos grupos SBT e Band, durante o exercício legal de suas atividades profissionais ao cobrirem as manifestações no centro de Porto Alegre, na tarde desta quarta-feira (2).
De outra parte, manifestamos nossa solidariedade aos profissionais que diligentemente cumprem sua missão de bem informar.
Meios de comunicação livres serão sempre um importante pilar do Estado Democrático de Direito.
Roberto Cervo Melão
Presidente AGERT e Sindirádio."
A Associação Riograndense de Imprensa (ARI) também repudiou as agressões:
"ARI CONDENA AGRESSÕES A JORNALISTAS
Neste 2 de novembro, Dia Internacional pelo Fim da Impunidade de Crimes contra Jornalistas - data escolhida pela ONU para marcar o assassinato de dois jornalistas franceses em Bali, em 2013 - a Associação Riograndense de Imprensa ARI vem a público para se solidarizar com os profissionais e veículos de comunicação covardemente atacados por integrantes de manifestação antidemocrática em Porto Alegre. Agressões, ameaças, xingamentos e outros tipos de desrespeito tem sido o cotidiano de quem busca a informação e atua com o jornalismo responsável.
Frequentes em várias partes do país durante o período eleitoral, as agressões e ameaças a jornalistas vêm se intensificando desde a madrugada do dia 31, com a divulgação do resultado do pleito presidencial. Jornalistas estão sendo maltratados, destratados e agredidos, impedidos de fazer gravações e entrevistas no Estado, em Santa Catarina, Paraná, São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Goiás, Amazonas e em muitas outras praças. A Federação Nacional dos Jornalistas, a Associação Brasileira das Empresas de Rádio e Televisão, a Associação Brasileira de Imprensa, e sindicatos de diversos Estados vêm protestando contra essa situação.
Nesse contexto, também manifestamos integral solidariedade aos profissionais e empresas atacados e proclamamos veemente repúdio aos atos de violência. Comprometida com a democracia e com a defesa da liberdade de expressão, a ARI apela às autoridades para que garantam o livre exercício da atividade jornalística e punam os agressores na forma da lei.
José Maria Rodrigues Nunes
Presidente da ARI
Batista Filho
Presidente do Conselho Deliberativo"
O Sindicato dos Jornalistas Profissionais do RS (Sindjors) também repudiou os ataques.
O governador eleito do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (PSDB), criticou as agressões em postagem em rede social.
Fonte: GZH