Policiais que colocaram sacola na cabeça de mulher viram réus por tortura, roubo e ameaça no RS
- 12/01/2023
Crime foi cometido em Novo Hamburgo e registrado em vídeo. Policiais militares (PMs) estão presos e podem ser expulsos da Brigada Militar (BM).
Os dois policiais militares (PMs) que foram flagrados colocando uma sacola plástica na cabeça de uma mulher durante uma abordagem em Novo Hamburgo, na Região Metropolitana de Porto Alegre, se tornaram réus na Justiça pelos crimes de tortura, ameaça e roubo. Com isso, os soldados João Victor Alves Viana e Leanderson Alves da Silva começam a ser julgados.
O advogado Jair Canalle, que representa Leanderson, informou ao g1 que, assim que o cliente for citado pessoalmente, "apresentará a resposta à acusação nos termos da legislação processual militar".
A reportagem não obteve retorno da defesa de João Victor Alves Viana até a última atualização desta reportagem.
Para a promotora Anelise Haertel Grehs, responsável pela denúncia feita pelo Ministério Público (MP), e que foi aceita pela Justiça, "os PMs constrangeram o casal com emprego de violência e grave ameaça exercida com uma pistola, causando sofrimento físico e mental, com o fim de obter informação" (saiba mais abaixo).
Os dois PMs eram lotados no 3º Batalhão de Polícia Militar (3º BPM) e estão presos desde quarta-feira (4). O MP pede também que seja decretada a perda do cargo dos policiais militares e a interdição para o exercício da profissão pelo dobro do prazo das penas aplicadas.
Indiciamento militar
No dia 6 de janeiro, a Brigada Militar (BM) indiciou os dois soldados por tortura e extorsão. A BM determinou abertura de procedimento para exclusão dos policiais da corporação.
Após análise do caso, a corregedoria-geral identificou mais de 10 transgressões disciplinares cometidas pelos PMs, especialmente violações sobre Direitos Humanos e ao manual de abordagem.
O indiciamento por tortura se deu porque, além da sacola colocada na cabeça, a mulher relatou que ela e o marido foram agredidos e ameaçados pelos policiais. O indiciamento por extorsão ocorreu em razão da vítima ter relatado que os PMs levaram R$ 250 do bar em que ocorreu a abordagem.
Entenda
De acordo com a denúncia do MP feita à Justiça, em 1º de janeiro, a mulher e o marido estavam com dois amigos em frente a um bar no bairro São José, em Novo Hamburgo, quando foram abordados pelos réus que, apontando uma arma de fogo para eles, fizeram uma revista e mandaram eles entrarem no estabelecimento.
Em seguida, os dois amigos foram liberados, mas o casal ficou preso no local junto com os PMs. Eles estariam procurando por drogas, dinheiro e obrigaram o casal a se deitar no chão. Nesse momento, o casal teria sido ameaçado. "Melhor tu falar, se nós achar, tu vai apanhar", teria dito um dos PMs.
Após, o marido da mulher teria sido algemado pelos réus, colocado de joelhos, agredido e asfixiado com um saco plástico enquanto os PMs faziam perguntas sobre a localização de drogas e de dinheiro. Quando o homem estava quase desmaiando, os PMs teriam tirado o saco plástico da cabeça dele, insistindo nas perguntas sobre drogas e dinheiro. Depois, os réus teriam feito a mesma coisa com a mulher que é vista no vídeo.
Os réus teriam percebido nesse momento que alguém estava filmando a tortura e saíram correndo do local, deixando uma pistola e um colete balístico em cima de uma mesa, mas levando bebidas e R$ 250 em dinheiro.
Os policiais teriam voltado ao estabelecimento comercial depois para pegar a pistola e o colete balístico. As vítimas da tortura teriam sido ameaçadas e agredidas novamente. "Se o vídeo vazar, vocês estão mortos", teria dito um dos PMs.
No entendimento do MP, "a ameaça foi motivada por fato referente a serviço de natureza militar, já que teve como mote impedir a divulgação do vídeo em que registrada parte dos atos delituosos antes praticados pelos réus".
Fonte: G1 RS